O Poeta é um Fingidor...The Great Pretender

Porque hoje é dia de Santo António e porque Fernando Pessoa faria também hoje 125 anos, imaginei uma peça para um dia especial, espero que gostem
... e os excertos de dois poemas de Fernando Pessoa de que gosto muito, sem querer tentar descrevê-los... para mim a sua magia  reside no facto de expôr cada pessoa, como se nos pudessemos observar para além dos nossos limites, desde a margem e onde tudo é possível, mais do que se analisar a si próprio e às suas múltiplas personalidades, Fernando Pessoa permite que ao lermos os seus poemas estejamos a viajar e a descobrirmo-nos a nós mesmos... 

Because today is St. Anthony day, the "matchmaker"...and the portuguese poet Fernando Pessoa would make 125 years today...a new necklace perfect for a special day, I hope you like it, and a poem... Fernando Pessoa poems are very specials because each one of them make us travel in our own personality and feelings...

(you could read the poem "Poet is a Pretender" in english in the bottom of the page)



Chuva Oblíqua - Fernando Pessoa

Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito


E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios


Que largam do cais arrastando nas águas por sombra


Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...


O porto que sonho é sombrio e pálido


E esta paisagem é cheia de sol deste lado...


Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio


E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...


Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...


O vulto do cais é a estrada nítida e calma


Que se levanta e se ergue como um muro,


E os navios passam por dentro dos troncos das árvores


Com uma horizontalidade vertical,


E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...


Não sei quem me sonho...


Súbito toda a água do mar do porto é transparente


e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,


Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,


E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa


Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem


E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,


E passa para o outro lado da minha alma...


O Poeta é um Fingidor




O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.



E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.



E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.


Autopsychography - The Poet is a pretender



The poet is a pretender,
He fakes so completely
What is fake appears as pain
The pain that he really feels.



And those who read and write,
Having read the pain, feel well,
Not the pains that he has,
But the ones he does not have.




And so the wheel in channels
Rotates entertaining our minds,
That train on line
What they call the heart.



As Fernando Pessoa himself